Sua pele enrugava-se na água morna da banheira. Sua cabeça recostada segurava os olhos na mão direita. Uma gilete pendurava-se nos dedos seguros, certos, decididos. Sentia o vazio de seus dias na banheira cheia de água. Sentia o vazio de seus pensamentos na ponta dos dedos de sua mão direita.
Os azulejos brilhavam com a lâmpada do corredor, o espelho refletia a cortina que descansava nas costas daquela mulher que ia se tornando cada vez menor, cada vez menos dentro de si mesma.
Pensava em muito e não encontrava nada que a fizesse soltar a gilete dos dedos da mão direita. Largaria a única oportunidade de fazer algo direito, algo correto. Largaria a única oportunidade de ser corajosa, decidida, segura.
Rasgava, lentamente, num corte transversal, seu pulso esquerdo, e seus atos esquerdos derramavam-se em vermelho na água quente. Rasgava sua vontade de desaparecer. Rasgava sua pele, cobertura de tanta vergonha, decepção, ilusão.
Cansara-se de viver criando histórias na sua cabeça. Cansara-se de satisfazer seus desejos apenas no monte de papéis que escritos se espalhavam pelo chão do seu quarto. Cansara-se de ouvir as pessoas e cansara-se ela própria de si e dos outros.
Gota a gota, sua dor, angústia e tristeza escorriam para dentro da banheira. Sua vida jogava-se na água que lavava sua pele suja e maltratada pela dor. As lágrimas corriam o rosto, os cabelos espalhavam-se pelas costas e ela inerte, lamentava não ter tentado viver.
Um pensamento atrapalhava seu trabalho de libertação. Um pensamento desaconchegava seu corte, seu sangue, suas lágrimas. Lera, algumas horas atrás "Suicídio é falta de curiosidade". O desespero parou suas lágrimas, seu sangue e sua certeza.
Tarde demais. O corpo fixava-se na banheira, os olhos no azulejo que refletia a luz do corredor e a mão, prendia-se nas bordas de um mundo que deixava de existir para a pequena mulher.
segunda-feira, 14 de janeiro de 2008
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2 comentários:
Puta q pariu q forte!! ahahaha
Muito bom....
(nem comentar eu sei direito)
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